Enquanto assistia hoje a um seminário, sobre temas da história de arte contemporânea, e depois de rever um documentário sobre Mark Rothko, assaltou-me esta ideia um pouco inesperada: e se, entre Rothko e Kafka, que são ambos judeus, houvesse mais que uma afinidade aparente e longínqua, ligada à questão da sua desterritorialização? Rothko sofreu-a mesmo em termos artísticos, uma vez confrontado com os clássicos do modernismo (Picasso, etc; a excepção teria sido Matisse).
Por exemplo, quanto à «tragicidade da imagem» e à «experiência religiosa» de uma transcendência inscrita na sua pintura, nos termos matéricos da densidade / intensidade da cor, e da linha fluida da forma indecisa de um «tremeluzente horizonte» que há nos seus quadros, experiência auroral e crepuscular, a da tentativa de expressão das «emoções básicas do ser humano», como diz Rothko... Haveria alguma coisa que com isso se pudesse parecer, que a isso pudesse corresponder, em Kafka? Haveria, em suma, um equivalente do ponto de vista da experiência dessa «tragicidade da imagem», numa «literatura» dita «menor» (como é a de Kafka, de Beckett, de joyce, segundo Deleuze?). O anterior post, aqui no blogue, sobre aquilo que Kafka nos diz das «metáforas» seria talvez já indicativo dessa talvez afinidade...
Não será a de Rothko, também ela, uma arte «menor», no sentido em que Deleuze nos fala de uma «literatura menor», justamente? Rothko judeu, acometido pelos fantasmas cossacos de uma punição e de uma castração que ecoam da sua infância e que ele associa, em 57 à sociedade de mercado e de consumo, que é justamente a sociedade que produz a clientela do Four Seasons a que ele virá a recusar os seus quadros - haverá nele alguma coisa de próximo de Kafka? Os quadros pintados para o Four Seasons (inspirados nas janelas cegas da sala Miguel Angelo, da biblioteca Laurentina, em Florença, e talvez já no Atelier rouge de Matisse: não os da primeira imagem, aqui, mas o da segunda imagem), não conterão eles essa experiência (muito kafkiana) de uma impossibilidade de chegada, de uma ambivalência da abertura / bloqueio da janela, passagem para um limiar instável que se metonimiza e afasta, no qual se difere qualquer forma de destinação ou de presença, e que levanta a mais angustiante questão, quanto à função e à efectividade da arte, do ponto de vista da sua experiência de transcendência? Será esta ideia tão «peregrina» quanto parece?
Por exemplo, quanto à «tragicidade da imagem» e à «experiência religiosa» de uma transcendência inscrita na sua pintura, nos termos matéricos da densidade / intensidade da cor, e da linha fluida da forma indecisa de um «tremeluzente horizonte» que há nos seus quadros, experiência auroral e crepuscular, a da tentativa de expressão das «emoções básicas do ser humano», como diz Rothko... Haveria alguma coisa que com isso se pudesse parecer, que a isso pudesse corresponder, em Kafka? Haveria, em suma, um equivalente do ponto de vista da experiência dessa «tragicidade da imagem», numa «literatura» dita «menor» (como é a de Kafka, de Beckett, de joyce, segundo Deleuze?). O anterior post, aqui no blogue, sobre aquilo que Kafka nos diz das «metáforas» seria talvez já indicativo dessa talvez afinidade...
Não será a de Rothko, também ela, uma arte «menor», no sentido em que Deleuze nos fala de uma «literatura menor», justamente? Rothko judeu, acometido pelos fantasmas cossacos de uma punição e de uma castração que ecoam da sua infância e que ele associa, em 57 à sociedade de mercado e de consumo, que é justamente a sociedade que produz a clientela do Four Seasons a que ele virá a recusar os seus quadros - haverá nele alguma coisa de próximo de Kafka? Os quadros pintados para o Four Seasons (inspirados nas janelas cegas da sala Miguel Angelo, da biblioteca Laurentina, em Florença, e talvez já no Atelier rouge de Matisse: não os da primeira imagem, aqui, mas o da segunda imagem), não conterão eles essa experiência (muito kafkiana) de uma impossibilidade de chegada, de uma ambivalência da abertura / bloqueio da janela, passagem para um limiar instável que se metonimiza e afasta, no qual se difere qualquer forma de destinação ou de presença, e que levanta a mais angustiante questão, quanto à função e à efectividade da arte, do ponto de vista da sua experiência de transcendência? Será esta ideia tão «peregrina» quanto parece?
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