Adolph Hitler tinha «ideias». «Claras». No Discurso de inauguração da «Grande exposição de Arte Alemã (1937)» tem esta:
«Muitas vezes se perguntou: que significa realmente ser alemão? Entre todas as definições que foram sugeridas através de séculos, a mais valiosa parece ser a que não procura sequer dar uma explicação, mas em vez disso estabelece uma lei. E a mais bela lei que posso conceber para o meu povo, como tarefa de sua vida neste mundo, já foi formulada por um grande alemão há muito tempo: 'Ser alemão é ser claro'. Isso além do mais, deixa implícito que ser alemão é ser lógico e, acima de tudo, verdadeiro...»
A melhor parte é a da última frase... Sobre o que ficara «implícito»... Há outras «ideias claras», no seu discurso. Por exemplo esta:
«Observei, entre os quadros que aqui representados, alguns que nos levam à conclusão de que o olho mostra a certos seres humanos as coisas de maneira diferente do que realmente são, [...] que vêem os prados como sendo azuis, as nuvens amarelas, e assim por diante; ou, como dizem, os sentem dessa maneira. [...] Não, aqui só há duas possibilidades: ou esses chamados 'artistas' realmente vêem as coisas dessa maneira [... ] nesse caso teríamos de examinar a sua deformação visual para ver se é o produto de uma falha mecânica ou herdada. [...] No segundo caso, seriam objecto de grande interesse para o Ministério do Interior do Terceiro Reich, que teria então de examinar a questão da possibilidade de ser pelo menos contida a disseminação desse legado de terrível defeito dos olhos. Se, por outro lado, eles próprios não acreditam na realidade destas impressões, mas tentam perturbar a nação com essa farsa por razões outras, então essa tentativa enquadra-se na jurisdição do direito penal» (CHIPP, H. B. (org.), Teorias da Arte Moderna, trad. João Azenha Jr. et alii, São Paulo, Martins Fontes, 1999, p. 486-487)
Não se lhe pode negar a «clareza»... Ou pode? Em resumo: O que é uma «ideia clara»? - É uma ideia muda. O que difere de uma ideia silenciosa. Por exemplo, os quadros que Hitler «vê» têm ideias silenciosas. (Um ano antes, em 1936, Walter Benjamin publicava A Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica, e Heidegger A Origem da Obra de Arte).